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O CONHECIMENTO TÁTICO E A LEITURA DE JOGO DO TREINADOR

Parece que o futebol não tem um fim. Quanto mais se estuda, mais se aprende. E quanto mais sabe, mais acesso tem à informação, ou seja, mais tem para aprender. É um desporto emocionante, fascinante, mas que precisamos velar com clareza, pela razão, para que o possamos compreender e desenvolver. Já não basta ter uma bola a correr no campo, na direção da baliza adversária, e procurar o golo. É preciso criar uma razão para que a bola se mova, levá-la para um espaço específico, às vezes dois ou três, até conseguir aproximar a redondida da baliza adversária, e então, rematar à baliza. Sempre considero o processo de jogo como o objetivo principal e o golo como objetivo final, porque sem um jogo de qualidade, as hipóteses de finalizar à baliza são bastante menores

Dito isto, poderia enumerar imensas caraterísticas que podemos avaliar nos treinadores. No entanto, vou avaliar apenas duas, que relacionam o treinador com o jogo, deixando a liderança do grupo ou o treino de lado. Não quer dizer que seja menos importante, porque o é, porque a forma como o treinador se relaciona com a natureza do jogo está assente em imensos fundamentos.

 

O conhecimento tático do treinador

 

       Conheço alguns treinadores que apresentam melhor capacidade para treinar do que para compreender o jogo. São capazes de organizar um bom treino, mas o seu conhecimento tático está aquém daquilo que realmente acontece dentro do campo. Muitas vezes, no jogo, acontecem coisas incompreensíveis para a maior parte dos espetadores. Fintas e passes, ou melhor, ações técnicas, estas são fáceis de perceber, porque são ações físicas, e que encantam o adepto comum. No entanto, uma ação não se desenvolve apenas em função de uma finta ou um passe. Existem ligações aos colegas de equipa, existe a situação momentânea em que acontece essa ação, existe o porquê de realizar essa ação nesse momento, existe tanta coisa a ter em conta, que torna a avaliação dessa ação muito mais complexa.

 

       Ter conhecimento tático não é perceber que uma equipa joga em 4x4x2, porque o 11 inicial tem 4 defesas, 4 médios e 2 atacantes. Ter conhecimento tático, tem muito que se lhe diga. Existem movimentações, existem fases, existem comportamentos para cada situação similar a tantas outras, existem princípios, existe tanta coisa que é impossível resumir organização tática a um 4x4x2. Honestamente, acredito que cada vez há mais pessoas com um conhecimento tático suficiente para trabalhar em jornais desportivos e realizar análises em condições. No entanto, nos jornais, não encontrámos nenhum conhecimento tático digno de uma análise de futebol. Se a ideia é utilizar a mesma linguagem do adepto comum, com o intuito de vender papel, lamento por isso

 

A leitura de jogo do treinador

 

       No entanto, por muito conhecimento que o treinador apresente, importa também saber interpretar o que acontece no jogo. Um treinador pode conhecer todos os conceitos táticos de cor e salteado, mas não ser capaz de os perceber quando acontecem no jogo. Conhecer o jogo e ser capaz de o ler, vale o mesmo que saber a teoria e ser capaz de a aplicar na prática.

 

       Existe muita gente que tem uma interpretação do jogo engraçada. Aquele que corre melhor, e que marca mais golos, ou que desarma mais vezes, é considerado sempre o melhor jogador. Mas, talvez aquele que corre melhor, é aquele que não sabe qual é o seu espaço dentro do campo, e que deixa passar imensas bolas pelo espaço onde deveria estar; talvez aquele marque mais golos, porque o coletivo, como um só, é capaz de fazer a bola chegar à baliza adversária; e talvez aquele que desarma mais vezes, o faz, porque há um jogador na sua frente que não sabe ocupar o espaço, o tal jogador que corre bastante. Também existe aquele, o “fintinhas”, que passa a vida a perder a bola, mas faz um grande golo de três em três jogos, e é considerado o melhor jogador.

 

       No futebol, nem tudo é uma questão de organização tática. Mas, é através da organização tática, que o treinador se faz usar do seu poder para organizar um grupo, para fazer sobressair as mais fortes habilidades dos jogadores. Jogar em coletivo, como um só, onde defesas são os primeiros a atacar, na saída de jogo, os atacantes são os primeiros a defender, pressionado, notamos até algumas alturas do jogo onde temos 11 defesas ou 11 atacantes. Os jogadores tem habilidades físicas e técnicas, que facilmente são demonstradas quando estes jogam dentro de um coletivo que os potencialize. Uma estrutura nos momentos de jogo, uma estratégia para o jogo, princípios para as várias situações similares e comportamentos para as várias fases do jogo. O que fazer com a bola, para onde se movimentar sem a bola. Faça estas duas questões durante o jogo completo, para todos os jogadores, quer a equipa tenha a posse de bola, quer não tenha. Isso é organização tática.

 

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